domingo, 20 de fevereiro de 2011

"O apreço não tem preço..."

Admito, a palavra solidariedade já me sôou certas vezes superficial. Coisa de religião que prega sem mostrar como se faz – não que eu tenha preconceito ou sequer religião [tenho Deus]. Ou quem sabe coisa de telemarketing que pede doações para as crianças no Haiti, país tão distante mas com uma realidade de pobreza tão próxima. As vezes me questionava quando esquecia a torneira ligada enquanto escova os dentes e me repreendia pois não estava sendo solidária com o mundo desperdiçando água. Já ouvi dizerem que não doam o que tem porque trabalharam duro para ter seus bens, seu dinheiro, e não para dar a "preguiçosos" que querem apenas mamar nas "tetas" da socidade. E tantos outros que tratam os menos favorecidos com nôjo, desprezo e como "seres inferiores". E depois de tantos debates comigo mesma entendi que a solidariedade fundamenta-se em valores que não conseguimos quantificar, qualificar, ou sequer nomear. Venho aprendendo que solidariedade não tem longas explicações científicas ou filosóficas. Utópico? Não, não mesmo meu amigo. É estender a mão, sem olhar cor, sexo, condição social (ou à falta total dela), saúde e até a conta bancária. E isso para muitos não é nada fácil, tantos olham através dos seus carros importados blindados e sequer percebem as crianças fazendo balabares ou vendendo chicletes no sinal, será que construíram vidros à prova de pobres e a miséria se tornou invisível? Sei, não é fácil ver o ser, não o ter e dar sem querer nada em troca, mas é preciso [necessário] começar a ver o mundo com outro olhar. Está achando que essas palavras são românticas e sonhadoras? Não, faço parte do mundo e tenho responsabilidades sobre ele, não vivemos isolados dentro de nós mesmos. É difícil perceber que o mundo não gira em torno do material, claro que ele é importante, mas sem sentimentos a existência se torna vazia. Posso ser a única a trabalhar em um projeto social, mas se eu acreditar, terei apoio de muitos. Se eu fizer a minha parte, estimularei tantos outros a fazerem a sua. Acha que nos dias de hoje ser solidário é uma mera convenção social para sair bem na foto? Eu acredito em corações que se doam para outros corações e quem não tem esse sentimento verdadeiro desiste no meio do caminho. Espero poder ajudar as crianças do Haiti e daqui, economizar a água do planeta, dar um pouco do meu trabalho. Desejo dias melhores para os filhos que virei a ter. Dias de mais oportunidades e comida na mesa de todos. E eu – enquanto forças tiver – farei o meu pouco, e darei meu trabalho e meu pedaço de esperança. Mas, se nada disso eu puder ter ou fazer, ou tiver tomando atitudes erradas, que a vida me torne humilde para continuar aprendendo o caminho da solidariedade.


Texto do blog www.enredodosdias.blogspot.com
Karla Marques

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